O saudosismo consubstancia uma atitude humana perante o
mundo que tem como base a
saudade, considerada por Pascoaes o grande traço espiritual definidor da alma portuguesa: — o que, segundo o
poeta, é testemunhado pela
literatura portuguesa ao longo dos
séculos. No entanto, mais do que sentimento individual, a
saudade é elevada a um plano
místico (relação do Homem com
Deus e com o mundo, ânsia
nostálgica da unidade do material e do espiritual) e corresponde a uma doutrina
política e social.
Surgido no
clima mental
nacionalista,
tradicionalista e
neo-romântico de inícios do século, o saudosismo pretendia, tomando a saudade como princípio dinâmico e renovador (de forma algo obscura) levar a cabo, pela acção cultural, a regeneração do país. Seria, de acordo com o seu teorizador, a primeira corrente autenticamente portuguesa. Ligado a uma expectativa messiânica e profética, o saudosismo acabou por dar azo ao afastamento de alguns dos seus adeptos — como António Sérgio, que não reconhecia no seu passadismo capacidade de renovação, ou até Fernando Pessoa, que, embora partilhando este elemento messiânico, acabou por preferir o projecto cosmopolita e revolucionário da
Revista Orpheu. O saudosismo, embora tenha desaparecido como corrente literária e espiritual, mantém ainda ecos na obra de alguns escritores e pensadores ligados à análise do carácter nacional e dos seus traços definidores.