O conceito de
acontecimento, em
filosofia, assume uma certa ambiguidade, pelo que se encontram vários sentidos, consoante os filósofos que se têm debruçado sobre ele. O tópico dos acontecimentos é de grande importância para a filosofia, e em particular para a
metafísica, porque a relação de
causalidade é normalmente considerada como uma relação que tem acontecimentos como
relata. Assim, o acontecimento levanta problemas em relação à
existência e em relação à
identidade. Em relação à questão da existência o nosso esquema conceptual diz-nos que há acontecimentos. Temos necessidade de admitir a existência de acontecimentos na nossa
ontologia. Quanto ao problema da identidade, a questão de saber o género de coisas que os acontecimentos são, podem ser particulares concretos, ou particulares abstractos.
Na
metafísica contemporânea, a análise do conceito de acontecimento tem-se centrado no problema que consiste em saber o que é um e o mesmo acontecimento. Ou seja, no problema da
individuação de acontecimentos. Uma perspectiva defende que um acontecimento é sempre o mesmo quando tem as mesmas causas e os mesmos efeitos. Mas vêm outros filósofos alegar que causas e efeitos são eles próprios acontecimentos. Outra perspectiva é que dois acontecimentos são idênticos se ocorrem ao mesmo tempo no mesmo lugar. Mas contra esta perspectiva há argumentos que defendem que para uma só ocorrência no mesmo lugar e tempo podemos ter mais do que um acontecimento. Por exemplo: um cientista inventou uma nova técnica enquanto tomava banho e assobiava. O tomar banho, o assobiar, e o “eureka” da invenção de uma nova técnica, constituem três acontecimentos.
Um outro debate central em filosofia é o seguinte: ou se os acontecimentos devem ser entendidos, à semelhança dos objectos, como entidades individuais que susceptíveis de serem localizados no espaço e no tempo e descritos de várias maneiras; ou se devem ser encarados mais como proposições ou factos cuja identidade depende essencialmente dos conceitos em que se encontram enquadrados. O segundo modelo iguala acontecimentos a factos, e portanto, o aparecimento do João, tão aguardo à festa, ou o seu não aparecimento, são ambos acontecimentos. De modo algum o não aparecimento do João é um não-acontecimento, na medida em que pode ter na mesma causas e efeitos.