O
Processo Revolucionário em Curso – por vezes referido como "Período Revolucionário em Curso" ou, com mais frequência, apenas pela sigla
PREC – designa, em sentido lato, o período de actividades revolucionárias, marcante na
História de Portugal, decorrido durante a
Revolução dos Cravos, iniciada com o golpe militar de 25 de Abril de 1974 e concluída com a aprovação da
Constituição Portuguesa, em Abril de
1976. O termo, no entanto, é frequentemente usado para aludir ao período crítico do
Verão Quente de
1975, com o seu antes e o seu depois, que culmina com o
Golpe Militar de 25 de Novembro.
Num sentido mais restrito, designa a acção dos partidos, quadros militares e grupos de esquerda que, por entre efervescente agitação popular e alguma desordem, conduziam o processo político do pós 25 de Abril «rumo ao
socialismo». No processo estavam envolvidos militantes de uma vasta franja do espectro partidário de esquerda, desde o
Partido Socialista (PS) aos mais radicais, como o
maoista MRPP. Entre eles, apesar da contenda ideológica, havia coesão cerrada em torno dos ideais de Abril e a convicção de que uma verdadeira justiça social seria instalada em
Portugal.
A par das ocupações de terras e casas abandonadas, da
Reforma Agrária, de melhorias importantes como o estabelecimento do salário mínimo, o processo levaria ao desmantelamento de grupos económicos ligados ao regime deposto, entre os quais a
CUF, à nacionalização de empresas consideradas de interesse público, na banca, seguros, transportes, comunicações, siderurgia, cimento, indústrias químicas, celulose. Fizeram-se «saneamentos» no aparelho do
Estado e nos meios de comunicação, com vista a afastar elementos indesejáveis do velho regime, substituindo-os por elementos afectos às forças políticas dominantes. Houve-os de vários quadrantes, sendo voz corrente que o
Partido Comunista Português (PCP) beneficiou em número (era um partido bem organizado). O
Caso República (que culmina com a edição do jornal
República de 19 de maio e com o seu encerramento até 18 de Julho) dará que falar: não será só pretexto para acusar o PCP de manipular a comissão de trabalhadores que ocupou as instalações do jornal
República e expulsou o seu director, o
socialista Raul Rêgo, como também será um excelente motivo para que os órgãos de informação internacionais se debruçassem de novo sobre a situação em Portugal. Uma grande manifestação em frente da sede do jornal, em que participam os notáveis do PS, é organizada para dar voz ao caso. As instalações seriam depois recuperadas e usadas para o lançamento de um novo diário,
A Luta , que durante alguns anos se tornaria voz do Partido. É a partir deste caso que se eleva por seu lado a voz de
Mário Soares que, em tons dramáticos, acusa o PCP, em suma os «comunistas» portugueses, de serem responsáveis pelo estado do país. O tema e o tom manter-se-iam por muito tempo em inúmeros discursos feitos por toda a parte. A esquerda portuguesa sairia profundamente debilitada deste controverso caso.